Translate to your language

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Apenas um Estranho

Certa vez, uma garota, digamos uma garota não muito normal, resolveu andar até onde aguentasse, apenas para conhecer seus limites.

Essa garota tinha 16 anos, estava no auge da crise da adolescência, e buscava desesperadamente por alguém que a compreendesse e não mais a repreendesse. Ela já tinha ouvido falar dessa tal "crise", mas não pensara que a crise também passaria por ela. Se julgava diferente das demais pessoas.

Começou a andar, sem uma direção pré-escolhida, e seguiu andando por algumas horas. Essas algumas horas tornaram-se várias horas. E essas várias horas se somaram e se transformaram em um dia. E esse dia, com um pouco mais de esforço da garota, transformou-se em dois dias.

A garota, Cecília o nome dela, não sentiu fome nem sede durante o tempo em que caminhava. Apenas queria logo saber seus limites. Desejava chegar ao limite da exaustão para, então, pensar em como voltaria para casa. Desejava estar praticamente exaurida de forças para, então, se dar conta de onde estava. E então, ela se deu conta: não sabia onde estava e não sabia como voltar.

E agora, Cecília?

Percebendo sua situação, olhou ao redor e tentou se localizar. Sua vila, situada ao sul da Montanha Mais Alta, não estava mais à vista. Nem mesmo a montanha, dita tão alta, estava.

Cecília, agora, estava em uma floresta que nunca havia estado. Cecília, agora, via animais e plantas que nunca havia visto. Não teria a ajuda que precisava ali, no meio da floresta.

Então, forçou-se um pouco mais e chegou à saída da floresta. Por sorte, ou por intuição (ela descobriria mais tarde), viu uma pequena casinha a poucos metros da trilha que havia dentro da floresta. Uma casinha pequena, bastante rústica.

Era originalmente branca, Cecília pôde perceber, mas estava bastante encardida e empretecida devido a chuvas e à própria ação de musgos crescendo. Seu telhado, Cecília não sabia dizer o porquê, era verde e tinha todo o tipo de vegetação rasteira crescendo. Até mesmo cogumelos das mais variadas cores. Havia também, Cecília notou, uma chaminé pequenina. E por essa chaminé saía alguma fumaça. "Tem gente", pensou Cecília.

Esforçando-se um pouco mais, a garota em crise caminhou até a porta da casinha e bateu uma vez. Foi o bastante. "É o bastante", pensou. Então, caiu à porta da casinha peculiar, com a consciência já apagada. Por sorte, ou por intuição (ela descobriria mais tarde), a porta se abriu e a pessoa só teve tempo de segurar a menina que vinha caindo porta-adentro.

Sentindo calor humano pela primeira vez em dois dias, Cecília abriu um pouco os olhos e mirou o rosto da pessoa, pensando ser alguém que conhecia. "É apenas um estranho", pensou Cecília. Então, sua consciência se apagou de vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário