A noite seguia implacável, e estaria
muito difícil de enxergar não fosse a fogueira improvisada perto da cabana.
Andon estava desconfiado, pronto a sacar sua espada a qualquer instante. Não
costumava confiar muito nas pessoas, com certa mania de perseguição.
--- Moro em uma vila que fica aqui
perto. --- iniciou Aron --- Sou um dos guerreiros de lá, mas também exerço a
função de curandeiro. Alguns moradores estão com uma certa enfermidade, com
manchas na pele. Não conheço essa doença, mas, eu tinha de fazer algo a
respeito.
--- Ainda não me explicou como me
achou.
--- E acho que ainda não entendeu
também. Eu não lhe “achei”. Estava procurando por ervas, já disse! --- McGailor
tinha o temperamento um pouco forte.
--- Por ora aceitarei sua história.
--- tirou a mão da espada e relaxou.
--- Faça como quiser.
--- Então vamos comer. Aquele javali
já deve estar assado.
Cada um puxou sua respectiva coxa
e comeram como se estivessem famintos há semanas. Andon ainda pegou uma
terceira coxa para saciar totalmente a fome. Aron o observava quieto.
--- Você não confia em ninguém,
espadachim.
--- Bem observado, arqueiro.
Dificilmente não desconfio.
--- Como você aprendeu a arte de
Lashton? Por acaso estudou em Huntar?
--- Huntar? A arte perdida de
Lashton chegou a Huntar? Então, o traidor...
--- Traidor?! Meu mestre era honrado
e disciplinado. Treinou-nos com perseverança e rigorosidade.
--- Se for quem penso, é um traidor
sim. Mas, deixemos isso quieto, por ora.
--- Agora sou eu quem quer
respostas. Explique-me bem essa história de traidor.
Andon encarou Aron, que o encarava
de volta com uma expressão em um misto de curiosidade e raiva. Escolheu bem as
palavras e iniciou.
--- No templo em que treinei, havia
um aluno mais experiente, o melhor de todos nós, chamado Guildo. É familiar
para ti?
Aron pareceu engolir as palavras do
Herói a seco e com areia.