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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Dúvidas


E continuamos a caminhar
Sempre na incerteza de falhar
Seguindo a clareza do luar
E sentindo cheiro doce no ar

Talvez seja tempo de me perder
Reservar um tempo para lhe ver
Tentar os problemas resolver
Misturar trabalho com lazer

Mas começo a desistir de sair
De levantar da cama e ir
Não quero mais me ferir
E a incerteza não me deixa partir

Gostaria de não ter dor
Quando estou sentindo seu calor
No coração me bate um ardor
Sentimento diferente do amor

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

As Mortes de Gentil 01

Esse é um projeto já antigo que eu estava escrevendo mas acabei dando uma pausa.
Serão uma série de histórias independentes que se ligarão ao chegar à última história.
Inicialmente, eu pretendia escrever apenas 5, mas estou com ideias que podem chegar até a 8 ou 9 histórias. Veremos isso mais para frente.
Fiquem com a primeira história de Gentil.




Meio-dia. Sol a pino. Um calor de 30 graus e o cidadão andando pela cidade. Perambulava em meio à multidão apressada, onde o calor humano se misturava ao calor do astro celeste, criando um espaço abafado e obviamente quente, sendo capaz de deixar muita gente ébria.
Passando em frente a mais uma dessas padarias/lanchonetes, resolve entrar para tomar um pouco de néctar da vida. Pede uma garrafa de água à garçonete (que mais parecia um cão com raiva), que lhe, literalmente, joga uma garrafa quente. Indignado e sedento, pergunta se não há uma garrafa gelada (ou ao menos fria) e a garçonete, sem nem olhar para o cliente, diz que o lugar de pagar era no caixa. Paga e sai.
Andando pela calçada, novamente naquele ambiente sufocantemente inóspito, toma dois goles de néctar e da o resto da garrafa a um mendigo que ali estava. Descendo a rua, vê crianças brincando (sabe-se lá Deus como). Parecia até outro lugar. Pelo visto, não sofriam com o calor tanto quanto o mendigo, ou o resto das pessoas. Indagou-se sobre isso e puxou pela memória o seu tempo de infância. Crianças realmente não ligavam para o clima. Só queriam brincar.
Distraído ao mundo, continuou descendo a rua. Prestando atenção às crianças como mais ninguém, fora o único a prever aquilo: um acidente de trânsito. Brincando distraídas, uma das quatro crianças corre ao meio da rua. Rapidamente, o maltratado pela garçonete corre para salvar a criança. Não pensara no que fazia. Foi apenas o impulso de salvar uma vida que, provavelmente, valia mais que a sua. Não muito distante, deu um pulo e empurrou a criança, indo de encontro ao ceifeiro. Encontrou a morte na placa de uma Ferrari conversível vermelha, desses modelos clássicos, onde o motorista acelerava para se mostrar à caroneira interesseira que viajava junto. Tinha também tomado algumas cervejas antes de colocar o pé na estrada. Nunca imaginara que isso poderia acontecer logo com ele: bonito, rico, bem-sucedido dono de empresa. Não era maldade o jeito de pensar. Apenas inocência. Nunca fizera algo parecido e “se todos fazem e não há problema, por que aconteceria algo comigo?”. Inocência essa que custou uma vida, um processo por homicídio culposo, vários pontos na carteira de motorista, trauma nas crianças...
E essa foi a primeira morte de Gentil.